Abençoada seja a paixão de ensinar
Conte-,me, e eu vou esquecer; Mostrou-me, e eu vou te lembrar; Envolva-me, e eu vou entender. (Confúcio).
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Vivemos tempos em que é permitido pisotear flores, ignorar pérolas, subjugar pessoas e a mãe natureza. Mas, em especial, também é um tempo em que é permitido menosprezar aquelas e aqueles que, heroicamente, tecem histórias suas, e de outros, construindo o mundo da vida e da sabedoria. Estes são tempos em que aqueles que cuidam, não são cuidados. Aqueles que educam, não são valorizados. Aqueles que amam, sofrem com o deboche e o desprezo daqueles que não acreditam mais no amor.
Somos movidos pelas nossas utopias e paixões. Mas a realidade cotidiana é sempre dura, reveladora e cheia de contradições. A vida daqueles que denominamos mestres, educadores, professores, infelizmente, também é triste e desmotivada. Sim, logo aqueles e aquelas dos quais a sociedade ainda espera muito (saber, sabor e sabedoria). Pouco valorizados e feridos em sua dignidade, mas resistem brabamente. A escola tornou-se lugar de onde se espera muitas soluções. Muitas delas estão muito além das demandas de ensino-aprendizagem e das competências a partir das quais a mesma se organiza.
Os professores não deveriam, mas já se acostumaram. Acostumaram a ganhar baixos salários. Acostumaram a ter de trabalhar 60 horas semanais para garantir mais dignidade à sua família. Acostumaram a aceitar todo o tipo de pressão que a sociedade e os governos exercem sobre seu ofício e sobre a escola. E agora, pasmem, alguns já estão se acostumando com a desesperança, que pode ser lida na expressão de seus rostos e de seus olhares. Uma constatação triste, pois sempre foram e são vistos pelos adolescentes e jovens como um alento da esperança.
Nossos professores e nossas professoras estão doentes e estressados. Cuidaram, encaminharam e salvaram vidas alheias, mas não dedicaram o devido tempo para cuidar de sua própria vida. Como contemporiza a escritora Marina Colasanti, “eu sei que a gente se acostuma, mas não devia. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. A gente se acostuma para poupar a vida, que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma”.
Apesar de já terem se acostumado com tantas coisas, a maioria mantém sua missão de semear esperanças. Converse com algum deles e você verá como resistem para não virarem meros números, como quer a burocracia estatal, nas mais recentes investidas, questionando tamanho das salas X número de alunos X carga horária de professores. Muitos deles já pensaram em desistir, mas não conseguiram. “Desistir… eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos, do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça” (Geraldo Estáquio de Souza). Ainda bem que são tomados por mais uma imensa paixão de ensinar.
Nei Alberto Pies.
Mandado publicar por Paulo Zílio, professor por 30 anos no município e 18 anos pelo Estado.
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