Conhecendo Bom Princípio, Passo Selbach, Tupandi e Julio de Castilhos.
Um passeio de bicicleta que resgata a história e cultura, levando-nos ao tempo da escravidão, passando por Bom Princípio, Passo Selbach, Tupandi e Julio de Castilhos.

Pedalar é um ato de libertação. Você prepara seu equipamento, algumas provisões e inicia por algum caminho que é, geralmente, conhecido, mas que termina em inúmeras revelações. É o que proporciona um passeio conhecendo Bom Princípio, Passo Selbach, Tupandi e Julio de Castilhos. Tentarei trazer alguns aspectos no relato à seguir.
O passeio inicia na sede de Barão/RS, que fica a aproximadamente 650 metros do nível do mar. Ao invés de optar por rotas movimentadas e pavimentadas como a BR-470, ingressamos no caminho que leva a Linha General Neto mas, logo após a sede campestre do Esporte Clube Cantareira, vira-se à direita no sentido à Linha Camilo, onde entramos pelo antigo britador municipal e, cruzando pelo mesmo, continuamos pelo leito da extinta linha férrea que ligava Montenegro à Bento Gonçalves, até o cruzamento com a estrada que leva às Linhas Francesa Alta e Baixa (ainda conhecido por muitos como “ponte seca”).
Ao invés de continuar pelo leito da extinta Linha Férrea, toma-se à esquerda descendo no sentido à Linha Francesa Baixa até a entrada à direita que leva à Linha Babilônia, em São Pedro da Serra/RS. Após uma pequena subida, íngreme, toma-se novamente à esquerda e, passando pelas sedes de Linha Babilônia e Morro da Manteiga, “despencamos” até Bom Princípio pelo caminho que passa pela localidade conhecida como Vale das Flores.
Não exagerei com o termo “despencar”, pois a descida pelo Vale das Flores é íngreme, contínua e sinuosa. Os freios da sua bike precisam estar funcionando bem para reduzir riscos com acidentes.

Antes de iniciar a descida pelo Vale das Flores à esquerda, há opção de descer passando pelo centro de Tupandi via asfalto. Mas, convenhamos: se o ciclismo é de montanha (moutain bike), um asfaltinho (sic) fica sem segundo plano, especialmente em uma decida divertida, cheia de pedras, buracos mas com uma linha fácil e relativamente segura, rodeado de uma natureza quase intocada pelo dia a dia de poucas propriedades rurais.
A saída do Vale das Flores é pela RS-122, à direita, alguns poucos quilômetros antes da entrada de Bom Princípio, para onde seguimos. O fruto símbolo de Bom Princípio é o morango, o que fica evidente no pórtico do parque municipal, centro da cidade.

A tradicional “Festa Nacional do Moranguinho” acontece a cada dois anos. Passar pela cidade e parar para conversar com os locais é uma ótima experiência: no comércio, pessoas sempre dispostas a um bom atendimento com todos os charmes de uma aprazível cidade de interior.
Seguindo, saímos de Bom Princípio por outro acesso, também junto à rs-122, onde o letreiro saúda aqueles que chegam, vindos da região metropolitana, a cerca de 200 metros da ponte do Rio Caí.

Poucos metros antes de ingressar na RS-122, há uma pequena entrada à direita, arenosa e de chão batido, que leva à localidade conhecida como Passo Selbach.
“Passo” é a denominação antiga e usual de locais próximos a algum rio onde era possível fazer a travessia segura das águas sem necessidade de pontes ou barcos, quando ainda não existiam. Havia uma travessia dessa espécie no local, ficando conhecido como “Passo Selbach” devido ao Sr. Philipp Jakob Selbach ser o proprietário em meados de 1850.
Seguindo por esse trajeto encontramos, à direita, um antigo casarão escondido em meio ao mato.

Esse antigo casarão pertence a um proprietário que reside em Porto Alegre. Não é um local aberto ao público, embora uma adorável anfitriã foi amável em me receber e esclarecer minha curiosidade sobre o local.
É, sem dúvida, um imóvel histórico que merece ser preservado!
Construído por escravos, toda a riqueza da região que precisava fazer a travessia do Rio Caí circulava nas imediações. Não eram incomuns tropeiros acampando por algum tempo até que o nível das águas permitisse uma travessia segura. Logo, tornou-se um importante centro comercial que movimentou a economia por décadas, especialmente até a inauguração da “ponte de ferro” instalada em Feliz/RS, por volta do ano de 1900.

Chama atenção a qualidade da edificação, cuja estrutura visível mostra ter sido construída em pedra grês e barro (possivelmente uma mistura de barro com estrume), com ângulos e acabamentos perfeitos.

Por todos locais que exploro em minhas pedaladas, procuro ficar atento a datas. Até o momento, não encontrei registro de local mais antigo.
A anfitriã comentou que a manutenção do imóvel se dá por recursos próprios. O mato próximo praticamente “esconde” esse imóvel dos transeuntes mas é preservado para atenuar o efeito da intensa poeira da estrada de chão arenosa próxima ao local.
Seguindo, pouco adiante existe um pequeno “desfiladeiro“, fruto da obra humana. Segundo relatos, a escavação no chão arenoso ocorreu pelo tráfego intenso de pessoas, cargas e animais, durante séculos. Esse tráfego, pouco a pouco, escavou e erodiu o solo, moldando essa passagem como a vemos.

O imóvel descrito e próximo a esse local data de 1863 e, até meados de 1900, foi um epicentro da circulação e produção de riquezas na região. Por quanto tempo e por quem esse caminho foi utilizado? Que outras histórias devem existir e podem ser resgatadas?

Seguindo, poucos metros adiante, uma pequena entrada, à esquerda, leva até o leito do Rio Caí, onde relaxar e curtir a beleza e calmaria das águas é um convite inegável.

Vale observar: nesse local, o leito Rio Caí fica a poucos metros do nível do mar e, considerando a saída de Barão/RS a 650 metros, até aqui, o passeio foi somente de descidas. Mas os adeptos do ciclismo de montanha bem sabem que toda descida tem seu preço no retorno. É hora de submeter o físico à prova.
O desafio será “subir” até Salvador do Sul/RS.

Do leito do Rio Caí, seguimos no sentido ao Município de Tupandi/RS, pequena cidade que surpreende pela beleza de seus ambientes, desde os cuidados com a infraestrutura pública até os aspectos de asseio impecável que seus habitantes dedicam às propriedades. Tudo muito bonito e bem conservado, em meio a uma natureza exuberante e povo acolhedor.
Depois de Tupandi, passamos pela comunidade de Linha Julio de Castilhos, popularmente conhecida como “Julinho”, mesmo nome da sede campestre de seu Esporte Clube local.

Chegando à BR-470, próxima ao Centro de Salvador do Sul, o caminho de retorno à Barão/RS passa por alguns poucos quilômetros da rodovia até entrarmos no pórtico de São Pedro da Serra/RS, passando pela trilha ferroviária em Barão Velho e retorno à sede de Barão, praticamente pelo mesmo caminho por onde iniciou todo o passeio.

O registro dessa atividade, realizada em 12/02/2020, pode ser conferida no aplicativo Strava clicando aqui.

Essa é mais uma sugestão de passeio incrível que pode ser feito em nossa região dentro de uma rotina de atividade física, tão necessária na correria do dia a dia que, muitas vezes, nos obriga à uma rotina de poucas atividades físicas eficientes para manutenção de uma vida mais saudável.
Outras fontes: