Tradição é resgatar o passado
A busca pela permanência da tradição.
A tradição de comemorar a Revolução Farroupilha no Estado do Rio Grande do Sul já foi uma das maiores movimentações dos salvadorenses. Em meados do anos 80, dois grupos formavam em Salvador do Sul uma das rivalidades mais sadias em prol das comemorações gaúchas do 20 de setembro, a Tchê Quipe e Oigalé. Na mesma época do surgimento das equipes, surgia o centro de tradições gaúchas de Salvador do Sul, o Querência da Serra, que tinha o lema Catedral da nossa Terra. No dia 21 de setembro de 1984 foi definida a primeira patronagem, cujo patrão foi o ex-vereador Breno Almeida de Freitas, já falecido. Após o surgimento do ctg, já no ano seguinte houve o primeiro fandango, no antigo Festhaus. “Apenas na gestão de Mário Rohr, em 1990, foi doado o terreno para a construção do CTG”, afirma Canisio Hoffmann, ex-prefeito. Em 1989 uma comissão foi constituída para que a construção da sede do CTG saísse do papel. E juntamente com essa etapa, lança-se a 1ª gincana Tradicionalista. Depois de conseguir a sede, os eventos tradicionalistas ganharam ainda mais fôlego. “Nos anos 90 começaram as invernadas e a gincana tradicionalista já era mania entre os salvadorenses”, revela Arnilda Kolling, que já foi patroa no CTG e integrante da Oigalé. Os eventos das duas equipes passavam os limites de Salvador do Sul, como os almoços de confraternização em Paverama e os jogos de futebol de bombacha. Ainda haviam as celebrações como a missa crioula, homenagens às mães, com coordenação na época de Alaíde Groth Lermen, e claro, os desfiles no dia 20 de setembro. Existiam também os concursos da escolha da 1ª prenda, quando Susiméri Specht ganhou como representante da 15ª Região Tradicionalista. “O concurso de prendas exigia que elas soubessem de dados históricos e geográficos do Rio Grande do Sul”, afirma Margarete Kafer, integrante da Tchê Quipe.
Mas o que movimentava mesmo a cidade eram as gincanas. As tarefas eram repassadas às duas equipes pela patronagem do CTG Querência da Serra, e todas elas deveriam ser executadas. Na sua quinta edição, existia uma tarefa que consistia em “fixar um moerão do tamanho que achar conveniente no solo e deste moerão marcarão um pequeno segmento de reta no chão a no mínimo 8 metros e desta reta, 3 elementos em 5 tentativas, cada um tentará enlaçar o moerão com a boleadeira que trarão”, ou seja, eram complicadas e bem tradicionais do povo gaúcho. Todas tarefas tinham um total de pontos, e a equipe que mais marcasse, era campeã. O final das gincanas que encantava e deixou excelentes lembranças para os salvadorenses e região, pois se tratava dos desfiles. A Tchê Quipe e Oigalé tinham que mostrar a sua união e compreensão da tradição gaúcha. E jamais as equipes decepcionavam, mostravam toda sua criatividade e devoção pelo Rio Grande do Sul. “Tivemos um desfile que denominamos a Paz do Poncho Verde”, afirma Kiga, que tem um arquivo encantador da época. O lema naquele ano da Tchê Quipe era “Sempre presente onde houver tradição”. “Todo ano eu ia parar no hospital após o desfile, com penumonia”, afirma Cesar Fuhr, lembrando que nessa época do ano geralmente chove. Mas nem a chuva foi capaz de tirar as equipes da rua, entoando os hinos rio-grandenses.
Porém, o tempo acabou se encarregando de tirar esse exemplo de culto às tradições gaúchas. Após algumas discussões, como afirmam integrantes dos grupos na época, as gincanas e as equipes foram finalizadas. Hoje alguns têm a lembrança do quanto era emocionante o empenho e dedicação da Oigalé e Tchê Quipe. A forma como isso terminou não importa, o que Salvador do Sul deve guardar e sim, resgatar, é o orgulho de ser gaúcho.
Entre 2004 e 2005, alguns grupos de Salvador do Sul tentaram resgatar a antiga movimentação na Semana Farroupilha iniciada pela Oigalé e Tchê Quipe. Novamente surgiram gincanas, dessa vez denominadas Olimpíadas Farroupilhas, que animavam os jovens salvadorenses e são-pedrenses. Porém, mais uma vez essa ideia se perdeu. “O primeiro passo para voltar com as comemorações seria convidar as pessoas para participarem, promover e divulgar melhor os eventos do CTG”, afirma Tiago Silva, que esteve acampando este ano com o Piquete do Bonde.
Realmente, um grande desinteresse se instalou no município nas comemorações da Semana Farroupilha. Apenas dois grupos independentes acamparam nas imediações do Querência da Serra. “Quando chega a semana farroupilha , ninguém sabe como funciona o acampamento”, diz Tiago. O Piquete do Bonde, que desde 2004 acampa na Semana Farroupilha, ainda participam porque gostam de resgatar a tradição gaúcha, usando vestimentas tradicionais e preparando pratos tipicamente sul rio-grandenses, como carreteiro, vaca atolada, feijoada, churrasco e o costelão. “Já tivemos mais apoio do CTG, quando tivemos um desfile relembrando a Revolução Farroupilha”, lembra Silva. Porém, este ano, afirma ele, que ninguém foi convidado para desfilar.
Porém, o desejo de que no próximo ano seja melhor existe.
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